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Mostrando postagens de agosto, 2019
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DUAS INDICAÇÕES DE LEITURA  :  CONCEIÇÃO EVARISTO ( OLHOS D'ÁGUA )  AYOBAMI ADEBAYO ( FIQUE COMIGO ) OLHOS D’ÁGUA - CONCEIÇÃO EVARISTO Nos contos deste livro, Conceição fala sobre personagens que mostram suas raízes, do povo afro-brasileiro. Vidas sofridas, cotidianos sem saída, solitárias vidas. Poucos momentos são de alegria para quem lê, mas de constatação de verdades absolutas, sem questionamentos que possam ser feitos, destinos traçados para um povo que foi escravizado e que seguiu vivendo nos subúrbios das cidades, nas periferias da vida, em contato com a falta, com a dor, com a violência e pobreza. Sofrimento diário de personagens, em sua maioria, mulheres. O bom é que Conceição fala de tudo isso de uma forma poética, consegue trazer alguma leveza no relato de mundos submersos. E é difícil, pelo menos para mim, parar de ler um conto de Conceição Evaristo. Tenho que chegar até o final, ainda que seja pesado e triste, por que sei, ela vai dar um jei

Memórias e histórias - Eponinos, Negros de São Mateus.

      Meu pai, Sr. Eponino, se foi há 31anos. Homenagem com um trecho do livro de memórias publicado em 2017. “Como era bonito ver meu pai sair colocando o molho de chaves na cintura. Com aquele semblante sério de responsabilidade. Sabia que estava saindo para cuidar da gente. Ficaram as saudades disso. Lembro com felicidade que, ainda houve tempo, conseguimos conversar sobre livros, sobre o país, sobre os problemas do mundo. Foram nossos melhores momentos. O desbravador das tarefas do mundo exterior naquele universo familiar, senhor Eponino era um homem de estatura média, pele negra, cabelos castanhos levemente ondulados, sempre lustrosos à brilhantina. Tinha o rosto afilado, boca pequena, olhos de um castanho mais intenso, como folhas secas pelo sol. O quase liso do cabelo, apesar da pele negra, vinha da avó paterna indígena....  Assim era Eponino, olhando seu exterior, o que não explicava quem era no seu interior. Tinha suas contradições. Foi homem de esquerda na pol
CRÔNICA – UM EXERCÍCIO DE  DESISTÊNCIA OU UMA FORMA DE  RESISTÊNCIA? Desisto. De tentar entender, elaborar e verbalizar o que está acontecendo comigo nestes últimos meses, e com o Brasil. Desisto porque sinto que está travando minha capacidade de escrita, de criatividade. A análise é tensa, densa, quase impossível, muitos elementos em jogo, muitas explicações. E como disse alguém, o Brasil não é um país para amadores. Seguir no caminho da simples análise paralisa minha capacidade de intervenção cultural. Isto só estará a serviço do atraso. Então, nessa desistência, simplesmente decidi que sigo vivendo e respondendo ao que me provoca, instiga, desassossega, sem tentar explicações elaboradas. Porque estamos sendo levados por uma roda viva cotidiana de muitos fatos novos, esdrúxulos, absurdos, medievais. Resistentes a uma análise em tempo real. Um verdadeiro atentado aos avanços da humanidade, como se quisessem instaurar as trevas. Não dá para parar e pensar mu
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 PEQUENAS  CRONICAS FLIPIANAS  A SIMBOLOGIA E DELICADEZA DAS BONECAS ABAYOMI                        Com a alegria pairando pelas ruas de Paraty, na entrada do Centro Histórico num final da manhã, havia uma tenda com autores da cidade. Pequena parada, que durou cerca de uma hora, acrescentando vivências novas. Estava falando uma escritora local, que leu poemas. Outra, falou da tradição Iorubá, das bonequinhas feitas de tecidos trançados, muito pequenas. São chamadas de Abayomi.           As bonecas que estavam sendo mostradas foram feitas com tecido preto, roupas coloridas e panos na cabeça também coloridos. Do tamanho da palma de uma mão pequena, como a minha.  Seus rostos não têm olhos nem bocas. A autora Rita Gemino que trouxe um livro ilustrado, falou das oficinas que mantém na cidade para confecção das bonecas, da origem e simbologia das pequenas bonequinhas coloridas.  Da tradição oral contada pelos descendentes de africanos.   Essas bonequinhas e