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Mostrando postagens de novembro, 2018

Fragmento devastador

LEMBRANÇAS ENCOBRIDORAS “As lembranças pesadas são as mais traiçoeiras. Ao invés de permanecerem submersas no fundo da memória, emergem como o fariam as bóias do mar. Ou os balões de gás atirados ao ar, que sempre sobem. Portam-se elas como os balões e as bóias. Emergem quando deveriam ficar amarradas em âncoras ou bolas de ferro. E às vezes emergem parcialmente, numa espécie de maldade particular programada para atazanar. “Havia apenas um fragmento de memória, uma cena que me perseguiu por muitos anos. Uma mulher lava roupas no tanque, numa tarde quente de verão. O chão é de areia, o vento sopra levemente. Há um bafo quente no ar. A criança está sentada no chão, próxima à mulher. Brinca com a areia, absorta na lúdica atividade. Deve ter três ou quatro anos, talvez menos…"  A criança sou eu. “
Sobre o que falo no livro “Memórias e histórias – Eponinos, negros de São Mateus” Ancestralidade e história de vida -  Sobre como a delicada relação com a adolescência se transforma em ponto de partida, desencadeando memórias que afloram e dão sentido à vida. Negros de São Mateus, ancestralidade revivida em lembranças de quem fomos e de quem somos. A escrita que desenvolvo é sobre minha ascendência, de negros trazidos da África. Conto as histórias a partir da memória de meus antepassados. As primeiras memórias coletivas, são de São Mateus, local de origem de meus antepassados, que viveram na cidade no início do século passado. As histórias trazem junto o percurso de tempos, contextos, eventos do país que me tocaram. Indagações a serem respondidas em meu percurso de vida, para as quais busquei sustentação na própria ancestralidade e identidade. O relato é único, mas não individual. É parte de uma história coletiva de muitas mulheres, na tarefa de lidar com o cuidado de

20 de Novembro, dia da Consciência Negra

Neste 20 de novembro de 2018, importante lembrar a data, destacando protagonistas de uma luta que tem Zumbi dos Palmares como referência. São 130 anos da Abolição, com as histórias de muitos pra contar. Coletei dados que merecem destaque e seguem abaixo.  Sobre muitos outros podemos falar depois. "Muito além da princesa Isabel, 6 brasileiros que lutaram pelo fim da escravidão no Brasil - Amanda Rossi e Camilla Costa (@_camillacosta) Da BBC Brasil em São Paulo - 13 maio 2018" O fim da escravidão no Brasil completa 130 anos em 13 de maio deste ano. Em 1888, a princesa Isabel, filha do imperador do Brasil Pedro 2º, assinou a Lei Áurea, decretando a abolição - sem nenhuma medida de compensação ou apoio aos ex-escravos. A decisão veio após mais de três séculos de escravidão, que resultaram em 4,9 milhões de africanos traficados para o Brasil, sendo que mais de 600 mil morreram no caminho. Mas a abolição no Brasil está longe de ter sido uma benevolên

Saber mais sobre o Dia da consciência negra

Quer saber mais sobre o dia da Consciência negra ? Leia abaixo. O  Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra , celebrado em 20 de novembro, foi instituído oficialmente pela lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. A data faz referência à morte de  Zumbi , o então líder do  Quilombo dos Palmares  – situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na região Nordeste do Brasil. Zumbi foi morto em 1695, na referida data, por bandeirantes liderados por  Domingos Jorge Velho . Maiores informações podem ser consultadas no texto  História do Quilombo de Palmares . A data de sua morte, descoberta por historiadores no início da década de 1970, motivou membros do  Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial , em um congresso realizado em 1978, no contexto da Ditadura Militar Brasileira, a elegerem a figura de Zumbi como um símbolo da luta e resistência dos negros escravizados no Brasil, bem como da luta por direitos que seus descendentes reivindicam. Com a redemocratiza

Escrever um livro - experiência ímpar

Escrevi e publiquei um livro. Experiência única, tratando das memórias que consegui amealhar da minha vida. Acho que todas as pessoas deveriam transformar suas memórias em histórias para serem contadas. Principalmente os que não tiveram sua narrativa. Suas histórias acabavam sendo contadas tendem a ser contadas por outros, pela fala predominante num determinado contexto social. Daí a importância de eu ter escrito “Memórias e histórias, Eponinos – negros de São Mateus”.   Disse algumas palavras depois de lançado, num pretenso poema. SOBRE O LIVRO “MEMÓRIAS” “ARREMATE” Tirei de dentro de mim um filho. Teimoso, gestação lenta. Quantos anos? Talvez nove. Perdi a conta. Demorou demais a nascer. É grande e velho. Não, é antigo. Filho que se gesta. Mas já estava à caminho antes da gestação. Algo aconteceu, situações, relações, desejos, Tudo que existe na vida, que não se descreve. Apenas acontece, e a gestação começa. Nasceu grande, é suave e bonito. E ao t

O eco está presente

Parece que os ecos das pedras pisadas do cais, estão cada vez mais audíveis. Abre-se o baú do passado (que na verdade nunca esteve de fato fechado), das velhas idéias preconceituosas, discriminatórias. Perguntei-me se deveria continuar pensando e falando sobre este assunto, mas não tem jeito, ele nos move. Importante não esquecer as lutas históricas dos negros no Brasil por liberdade. Quem esquece sua história a reedita. Este momento é importante, (novembro e a consciência negra). Este tempo é importante (Presidente do atraso, explicita o racismo) “Glória a todas as lutas inglórias, que através da nossa história, não esquecemos jamais. Salve o navegante negro, que tem por monumento, as pedras pisadas do cais ”. Salve João Cândido, o Almirante negro. Não esqueçamos a “revolta da chibata”. HISTÓRIA O almirante negro e seu encouraçado prateado 100 anos da Revolta da Chibata Carlos Haag - Edição 166  - dez. 2009 Parodiando a relatividade científica, o tempo militar passa
A NOVA E VELHA CARA DO BRASIL Muitos de nós afro-brasileiros, gostaríamos de acreditar que o pior se reduziria com o tempo, até não voltar mais a acontecer. Enganados. Aparentemente vínhamos avançando na conquista dos Direitos Humanos para todos os brasileiros, acreditando que este consenso crescia nas mentes, na compreensão das pessoas. Que vínhamos apontando as desigualdades históricas do Brasil   e buscando formas de superá-las. Ledo engano. O problema é que deixamos de perceber que muitos apenas aguardavam um sinal, para expor o que de pior têm dentro de si. Calados, aparentemente concordavam com a instituição de políticas públicas para os tratados de forma desigual. O racismo escamoteado, negado, mas sempre sabido pela maior parte dos afro-brasileiros, sempre esteve presente. A diferença é que acontece agora de forma mais explicita, põe a cara pra fora, resgatados dos subterrâneos de nossa história.   Expõem a certeza de que brancos são superiores aos negros, aos índios e