NO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, UMA HOMENAGEM A PRIMEIRA ESCRITORA ABOLICIONISTA DO BRASIL, NEGRA E MULHER.

 



MARIA FIRMINA DOS REIS
 – Viveu de 1825 a 1917, no Estado do Maranhão. Era negra, mas nasceu livre, sendo filha de uma mulher branca e um homem negro. Escreveu contos, poemas, artigos sobre escravidão.

Sobre sua trajetória, aos 12 anos passou a viver com uma tia com algum poder aquisitivo e cultural. Neste momento teve seu primeiro contato com a Literatura. Era parente de Sotero dos Reis, importante gramático da época. Estudou por conta própria, conseguindo formar-se professora aos 22 anos. Foi aprovada em concurso público para a “Cadeira de Instrução Primária”, exercendo a partir daí a atividade de professora.

Causou polêmica quando criou uma escola gratuita mista, de meninos e meninas. O projeto não durou.

Maria Firmina continuou sendo ativista contra a escravização até 1917, quando faleceu no município de Guimarães.

 

 “URSULA”

MARIA FIRMINA DOS REIS foi romancista, seu livro mais conhecido foi “ÚRSULA” - uma narrativa que se passa ainda no Brasil colônia e escravocrata, já apontando questões étnicas e de classe. É considerado o primeiro romance abolicionista brasileiro, ESCRITO POR UMA MULHER E AFRODESCENDENTE, numa perspectiva abolicionista. Publicado em 1859, mostra a sociedade patriarcal brasileira, tendo como principais vítimas a mulher e o escravo. O romance foi publicado com o pseudônimo "uma maranhense"., dada a condição da mulher naquele contexto.

Em Úrsula, Maria Firmina mostra de uma forma dramática os conflitos de um triangulo amoroso, tendo a figura forte de um opressor, dono de escravos, assim como faz relatos do ponto de vista dos escravizados, sobre a tragédia de suas vidas.  São personagens que de alguma forma, na trama que se desenrola, remetem ao contexto do Brasil escravocrata.

No prólogo do livro, já fica visível o olhar da escritora para a sua condição, afirmando "pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados." Demonstra aí sua condição social e é deste lugar que escreve, muito mais próxima da pobreza, sem acesso a escolarização das elites.

Referiu-se ao próprio romance como "mesquinho e humilde livro". E, mesmo sabendo do “indiferentismo glacial de uns” e do “riso mofador de outros”, desafiou: “ainda assim o dou a lume”.

Por esses trechos do Prólogo do livro, é possível identificar sua leitura apropriada de uma época e de sua coragem.  Escreveu ao estilo do romantismo e, naturalmente, com a gramática da época.

O romance está em domínio público, podendo ser encontrado na Internet.

 

A POESIA DE MARIA FIRMINA DOS REIS

         A autora escreveu também poesia, sendo “Canto à Beira Mar”, uma coletânea de vários poemas de sua autoria, onde mostra seu talento, mas foi pouco divulgado à época.

No esforço de recontar a história de negros e afrodescendentes no Brasil particularmente na literatura, vem sendo resgatada e valorizada mais recentemente.

Abaixo, um dos poemas de Coletânea “Canto à Beira Mar”.

 

“SEU NOME”

 

Seu nome! em repeti-lo a planta, a erva,.
A fonte, a solidão, o mar, a brisa
Meu peito se extasia!
Seu nome é meu alento, é-me deleite;
Seu nome, se o repito, é dúlia nota
De infinda melodia.

Seu nome! vejo-o escrito em letras d'ouro
No azul sideral à noite quando
Medito à beira-mar:
E sobre as mansas águas debruçada,
Melancólica, e bela eu vejo a lua,
Na praia a se mirar.

Seu nome! é minha glória, é meu porvir,
Minha esperança, e ambição é ele,
Meu sonho, meu amor!
Seu nome afina as cordas de minh'harpa,
Exalta a minha mente, e a embriaga
De poético odor.

Seu nome! embora vague esta minha alma
Em páramos desertos, - ou medite
Em bronca solidão:
Seu nome é minha idéia - em vão tentara
Roubar-mo alguém do peito - em vão - repito,
Seu nome é meu condão.

Quando baixar benéfico a meu leito,
Esse anjo de deus, pálido, e triste
Amigo derradeiro.
No seu último arcar, no extremo alento,
Há de seu nome pronunciar meus lábios,
Seu nome todo inteiro!...

http://www.jornaldepoesia.jor.br/mfirmina06.html







Ana Lucia dos Santos, assistente social, professora e escritora.

Comentários

  1. Muito boa sua reflexão sobre a vida de Maria Firmina dos Reis.Ela foi uma vitoriosa. E no dia 20 de Novembro essa comemoração está muito correta. Parabéns Ana Lúcia
    bjos.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

INDÍGENAS DE MONGAGUÁ

LIVRO DO ESCRITOR MARCELO PAIVA REVIVE DOR E FAZ PENSAR EM REPARAÇÃO