MOMENTOS
DA QUARENTENA – O QUE PODEMOS DIZER?
NESSES
DIAS DE ISOLAMENTO, EM QUARENTENA, UMA FORMA DE USARMOS NOSSO TEMPO, PODE SER
DESCREVER O QUE ESTAMOS VIVENDO, CADA UM NO SEU CANTO. TENHO FEITO ISSO, E
PUBLICO NO MEU BLOG UM DOS TEXTOS.
QUEM
SE SENTIR A VONTADE PARA ESCREVER SOBRE SEUS DIAS, NOITES, TARDES, MANHÃS,
COTIDIANOS REVIRADOS, DEIXO ESTE ESPAÇO DE COMPARTILHAMENTO. NO FUTURO, QUEM
SABE POSSAMOS FALAR DE COMO RESISTIMOS.
COLÓQUIOS DA QUARENTENA
As tardes se repetiam quase que invariavelmente
iguais. A vida se configurando como um
aprisionamento. Ia para a janela e via apenas a parede bege há cerca de três
metros, através da grade e tela de meu apartamento. Era a única visão possível
de um apartamento térreo de fundos. Ou
quase a única.
Olhando
para cima, no ângulo possível, via sim, as janelas de outro prédio, separado do
meu pelo estacionamento de uma clínica. Se estivesse nas janelas dos prédios
vizinhos, imaginava, poderia ter uma ampla visão. Do céu azul sem limites,
receber a brisa bem no rosto. Aqui onde estava, apenas uma nesga de luz.
O
aprisionamento da tarde era compensado pelas manhãs, quando estridentes
passarinhos cantavam. Pareciam conversar. Ruidosos, num espetáculo de dar gosto
de ouvir. Demoravam neste ritual muito tempo, principalmente mos dias claros de
sol. Era sua recompensa. Eu também falava com eles, querendo participar do
alarido:
-
Contem pra mim. É verdade? Contem tudo, também quero saber. Já imaginava isso
sobre aquele vigia da clínica. Gosto muito de conversar com vocês.
Enquanto
falava, eu dava belas risadas, como se participasse. Entendesse. Não os via.
Eles ficavam entre a folhagem volumosa das árvores no fundo do estacionamento.
Era a melhor parte do dia, essas manhãs.
Não
contava para ninguém, temia que dissessem que falava sozinha. Mas os pássaros,
com uma sonoridade cantada, alterando tons, enquanto conversava com eles,
certamente testemunhariam que eu falava a verdade.
Ana
Lucia dos Santos
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