GRANDES MULHERES NEGRAS BRASILEIRAS QUE A HISTÓRIA OFICIAL NÃO DESTACA
HISTÓRIAS DE CORDEL PARA CONHECER GRANDES MULHERES NEGRAS
BRASILEIRAS
A escritora natural do Ceará Jarid
Arraes, cordelista, lançou livro “Heroínas
Negras
Brasileiras” em 15 cordéis, que reúne biografias de mulheres negras brasileiras que
foram importantes para a história de nosso país.
Escrita imprescindível porque não
aprendemos na escola sobre essas mulheres. Não estão na história oficial, que
se pauta no olhar dos “vencedores”.
Neste sentido, Jarid vem resgatar essa
enorme lacuna, fazendo um trabalho muito importante. Vale a pena conhecer um
pouco das histórias de algumas dessas mulheres que fizeram a diferença no seu
tempo histórico. Mulheres como:
1- Tereza de Beguela,
cujo nome foi oficializado nacionalmente em dia 25 de julho, como símbolo de
luta – dia Nacional de Tereza de Benguela e da mulher negra. Foi esposa de um
líder do Quilombo Quariterere, José Piolho, na atual cidade de Cuiabá, Mato
Grosso, durante o século XVIII.
Depois da morte de José, Tereza
de Benguela tornou-se a rainha do Quilombo. Lá plantavam algodão, milho feijão
mandioca e dominavam a arte do tear. Dominavam também a forja, transformando
armas que capturavam e utensílios domésticos.
A rainha Teresa comandou a estrutura política,
econômica e administrativa do quilombo, mantendo um forte sistema de defesa,
comandando negros e indígenas resistindo aos ataques dos bandeirantes por 20
anos.
2 - Dandara
dos Palmares – Viveu no
Quilombo dos Palmares no século XVII. Esposa de Zumbi dos Palmares, último líder
do Quilombo dos Palmares, com quem teve três filhos. O Quilombo ficava na Serra
da Barriga, região que hoje pertence município de União dos Palmares, Alagoas.
Dandara foi uma das líderes do exercito Palmarino.
Dedicou sua vida a lutar pela liberdade de seu povo, contra o sistema escravocrata
do século XVII. Lutava com afinco a grande guerreira, que também lutava
capoeira. Guerreava ao lado de homens e mulheres nas diversas batalhas. O Quilombo dos Palmares resistiu mais de cem
anos. Quando foi derrotado, depois de presa, Dandara suicidou-se,
jogando-se de uma pedreira ao abismo, em 6 de fevereiro de 1694, para não
retornar à condição de escrava. Ela ainda vive em todos que lutam por liberdade.
3 - Maria Felipa de
Oliveira – Líder das batalhas pela Independência do Brasil, na
Bahia, onde era conhecida como a “Heroína Negra da Independência”. Segundo os relatos, viveu na Ponta das Baleias. É
descrita como uma negra alta e forte, que vestia saias rodadas, bata, torso e
chinelas.
Maria Felipa liderou, em 1822, um grupo de mulheres e homens de diferentes classes e
etnias, fortificou as praias com a construção de trincheiras, organizou o envio
de mantimentos para o Recôncavo e as chamadas “vedetas” que eram vigias nas
praias, feitas dia e noite, a fim de prevenir o desembarque de tropas inimigas
além de participar ativamente de vários conflitos.
Era uma mulher, pobre,
negra, marisqueira, características não só dela, mas de um grupo que teve
participação significativa no processo de libertação da Bahia, mas que
permanece, sob vários aspectos, ignorado.
Embora não existam documentos
que comprovem sua existência, Maria Felipa está registrada pela população Itaparicana
através de memórias com diferentes significados. Para as pessoas do local, ela
é um símbolo de resistência e está inserida em suas histórias de vida e
realidade social.
4 - Zeferina – Segundo consta tem origem angolana e foi trazida em navio negreiro na
primeira metade do século XIX. Nas histórias orais contadas pelo povo negro, Zeferina foi uma rainha que fundou o Quilombo do Urubu, baseada
em modelos civilizatórios africanos para salvaguardar e proteger seu povo da
escravidão.
Sua mãe lhe
ensinou a tradição dos ancestrais, demonstrando como acessar poderes para
manter a sua espiritualidade e realeza soberana diante das barbáries.
Zeferina fundou o Quilombo do Urubu e se tornou uma importante
personagem das insurreições negras na Bahia no século XIX. Era uma mulher
Valente que organizou índios, escravos fugidos e libertos, no geral, que
queriam a libertação para todos os negros na província do Salvador. Foi uma líder de grande poder, a qual todos
reverenciavam e seguiam as estratégias de luta.
Segundo o
historiador Walter Passos “uma mulher que conseguiu unificar, em pleno século
XIX, homens e mulheres”. Tinha ambições grandiosas, travou várias e duras batalhas
em prol da liberdade. Era radicalmente contra o colonizador branco, a quem
deveriam “matar”, para que os negros vivessem.Tentaram levantes neste sentido,
mas acabaram sendo vencidos, não sem muita luta. Sua memória e seu espírito de
luta permaneceu com os remanescentes do
quilombo. Hoje se constitui um local sagrado para o povo de santo – o Parque
São Bartolomeu, uma das últimas áreas verdes da cidade de Salvador.
5 - Antonieta de Barros - Nascida já no século XX, (1901), foi a primeira
deputada negra do Brasil. Enfrentou muitas barreiras como mulher, negra,
jornalista, fundadora e Diretora do jornal “A Semana”. Elegeu-se pelo Estado de
Santa Catarina. Era filha de uma escrava liberta e de um jardineiro, nasceu apenas treze anos depois do fim da
escravidão. Apegou-se à educação como forma de libertação inclusive da “escravidão
social” que lhe era imposta.
Cursou a escola normal até se formar professora. Em seguida, 1922,
fundou um curso de alfabetização em sua própria casa, com seu nome: curso de
alfabetização Antonieta de Barros.
Colaborou
nos principais jornais de Santa Catarina por mais de vinte anos. Esteve à
frente se deu tempo, na medida em que fundou um curso de alfabetização num
momento em que as mulheres sequer podiam votar, o que somente aconteceu em
1932, quando este tornou-se um direito universal. Naquele contexto, exigiu
muita força da parte da Deputada. Sua escola era respeitada inclusive por
famílias tradicionais brancas.
Também
tinha como metas educação para todos, valorização da
cultura negra e emancipação da mulher. Elegeu-se em 1934 mas a ditadura de Getúlio
Vargas, interrompeu deu mandato em 1937. Mas foi reeleita dez anos depois, em
1947.
E então? Vocês conheciam essas mulheres brasileiras negras com histórias de
luta? Na escola certamente não foram mostradas, mas é
isto que precisa acontecer. A inclusão das histórias dos povos negros, para que
estes possam contar, protagonizar, escrever suas próprias histórias, manter suas identidades.
Isto é dito nas palavras
da própria Antonieta de Barros: “Não será a tristeza do deserto
presente que nos roube as perspectivas dum futuro melhor (..), onde as
conquistas da inteligência não se degenerem, em armas de destruição, de
aniquilamento; onde os homens, enfim, se reconheçam fraternalmente. Será,
contudo, quando houver bastante cultura e sólida independência entre as
mulheres para que se considerem indivíduos. Só então, cremos existir uma
civilização melhor.”
Para que o país seja melhor, é
preciso valorizar, na educação, as tradições e cultura negra, assim como
entender a condição da mulher na sociedade brasileira. Daí a importância da
publicação da escritora Jarid Arraes, que vem nos ajudar a manter essas
memórias vivas, das guerreiras e mulheres negras brilhantes que foram de enorme
importância para o Brasil.
Neste mês de novembro, vamos continuar
falando de mulheres, agora escritoras negras.
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