PEQUENO POEMA         Ana Lucia Santos

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 Reconforto


O amor aquece o peito,

Abre flores,

Primaverando nossas vidas.

É pura busca de sentido.



Sonhos correm, 

tomam dianteira.

Abrem portas e janelas, é vida.

Não se importam com fracassos de outrora.



Justa busca diária

Pelo encontro com o amor.

Onde pode nos levar?

A quimeras que nos alentam.



CONTO - HISTÓRIAS CONTADAS POR CRIANÇAS

VIDA FÁCIL
                               Ana Lucia dos Santos

               Na infância de Clara, por volta dos sete anos, de frente a casa onde morava, que pensava se assemelhar a um castelo de contos de fadas, pois era uma casa cor de rosa e tinha uma laje, sua torre imaginária, morava uma mulher que todos conheciam. O nome dela era D. Emília, pessoa briguenta, exaltada, principalmente quando bebia demais. O que era comum. Mas Clara a achava bonita, pelo menos quando usava batom.
            Na mesma casa, moravam outras mulheres mais jovens que ela, bonitas também embora, como já disse, D. Emília também o fosse. De uma beleza mais madura. Uma negra alta, com pose de rainha que andava de um jeito ondulante, fazendo um rebolado exagerado. Não passava despercebida.  Sempre fora assim, uma pessoa um tanto exagerada, ou seja, das discussões nas quais se envolvia, saía soltando palavrões ou dando estrondosas gargalhadas. Mulher de extremos.
         Aos olhos de menina de 07 anos, aquelas moças eram muito bonitas. Gostava delas. Perguntava-se se eram todas irmãs. Mas seus pais não gostavam daquelas mulheres tão risonhas sem motivo. Não gostavam de falar sobre elas.Principalmente a mãe de Clara. E ela não entendia por que.
         Um dia soube que, uma das moças que lá morava e que tinha um bebê pequeno, foi parar no hospital logo cedo. Acompanhando a criança que ficou internada. Não souberam dizer qual era o problema da criança.  Ela chegou do hospital e contava alto na rua, coisas que deixaram a menina Clara triste. Falou que deram no seu filho uma injeção na cabeça, na moleira e que por isso a criança havia piorado.
         No dia seguinte, quando voltou ao hospital, seu bebê estava muito fraco, numa dormência de sono pré-morte. O que aconteceu poucas horas depois.
         Aquela história impressionou muito Clara. Mas não comoveu sua mãe. Seu pai, foi saber do ocorrido, conversou com D. Emília que confirmou o relato. Elas não sabiam o que fazer. Queixavam-se do atendimento da criança, se fizeram o atendimento de forma correta. Elas choravam muito, principalmente a mãe do bebê. O pai de Clara, Sr. Joaquim, respeitado na rua, foi procurar saber no hospital. Na volta, ficou convencido de que os médicos estavam corretos. A injeção não foi na moleira. Mas na espinha vertebral. E não foi injeção, somente tiraram um líquido para ajudar a saber a causa do adoecimento. A criança morreu de uma doença de nome Meningite. E os médicos não puderam fazer muito por ela, que chegou ao hospital com a doença já muito adiantada.
         O pai ocupou tempo e atenção às mulheres, para ir ao hospital e ainda retornar com as explicações. De qualquer forma a mãe de Clara não gostou  que o pai se intrometesse nos assuntos daquelas mulheres. Disse que elas eram “mulheres de vida fácil”, o que clara não entendeu. Achava que a vida delas era muito difícil e triste. Não tinham marido para ajudar. Gostou da atitude de seu pai, que a partir daquele dia, passou a cumprimentar com mais respeito D. Emília, cumprimentava e sorria. A mãe de Clara prometeu que ainda iria na casa das moças falar com D. Emília, avisar que aquele marido era dela.
         Um dia de domingo, Joaquim vinha de um jogo de bola e encontrou sua mulher numa discussão em frente à casa. Gritava com D. Emília, que dava as suas estrondosas gargalhadas, enquanto a mãe de Clara ficava mais exasperada. Ele achou a situação humilhante, tentou carregar a sua mulher para dentro de casa, mas ela não parava, não havia quem a tirasse da discussão.  Falou mal de todas as moças da casa, que já vinha vigiando elas há muito tempo. Até da moça que havia perdido o bebê para a doença de nome feio, ela falou mal. Disse que foi castigada por Deus por fazer mal às famílias daquele bairro.
Sr. Joaquim desistiu de tirá-la daquela situação e entrou para dentro de casa. A mãe de Clara demorou muito a entrar. Quando o fez, estava suada, com o rosto vermelho, cansada, quase com a língua para fora da boca. O homem ficou calado e envergonhado dentro de casa, e não deu razão à esposa, por mais que esta se defendesse e justificasse sua atitude. Havia visto os olhares dela para ele desde o dia em que ajudou a moça que perdeu o bebê. Resultado da contenda: Os pais de Clara passaram muito tempo conversando bem pouco, só o necessário. Ele demorou muito a voltar a ser o mesmo. A mãe tentava todos os dias agradá-lo, até o vê-lo voltar a tratá-la bem.
D. Emília ficou cada vez mais sorridente, dando gargalhadas alto para todo mundo ouvir, apontava pra nossa casa quando chegava nessa alegria, depois de ficar algum tempo encostada no balcão do bar que ficava na esquina, conversando com muitos homens que serviam um líquido branco em copos pequenos. Pagavam-lhe aquela bebida e quantos copos mais quisesse. Afinal, Clara compreendeu que D. Emília era a “chefe” das mulheres que moravam na casa e os homens do bairro a tratavam muito bem.
Foi assim que a menina começou a compreender o que sua mãe queria dizer quando falava que as mulheres da casa quase em frente à sua, eram “de vida fácil”. No caso da D. Emília, concordava. Mas não no caso das outras moças da casa. A do bebê que morreu no hospital e as outras. Usavam batom vermelho e pintavam demais o rosto. Mas tinham uma expressão triste, e gente assim, não podia ter a vida fácil. De modo que continuou a ter simpatia pelas moças.

 Foto (2) (2).jpg  Por Ana Lucia dos Santos

Até breve!


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