17ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY – 2019

Ficou uma ressaca pós FLIP. Bom mesmo é viver a vida em suspensão, como fazemos coisas que nos livra do cotidiano. As viagens produzem esse efeito. A FLIP CUMPRIU ESSE PAPEL. E MUITO BEM.
Buscando dar sentido à experiência, quero compartilhar a importância do exercício de compreensão do Brasil hoje, à luz do passado. Inclusive no resgate à obra de Euclides da Cunha, “Os Sertões”, seu faro de jornalista que cobriu a Guerra de Canudos.
Mesmo de um Euclides, que acompanhou as teorias científicas de seu tempo, eugenistas, de superioridade racial. Não consegui deixar de pensar este aspecto do autor homenageado. O que não diminuiu a meu ver a importância do resgate do autor.
Equacionei melhor as idéias do homenageado, quando compreendi que, além do grande escritor que foi e sempre será, teve o mérito de nenhum outro. De muito que viveu e escreveu naquele período em que cobria o conflito, militar e jornalista que era, acompanhando de perto a última investida contra Monte Santo, na Campanha de Canudos, acabou conseguindo retraduzir a guerra contra rebeldes monarquistas contrários à república, em CHACINA DE CANUDOS. E isto tem um valor histórico inestimável.
Pude com isso e por isso, desde o primeiro dia da FLIP, pensar e fazer um paralelo entre as formas de eliminação das vozes discordantes, sempre utilizadas pelo Estado brasileiro. Temos história da relação do poder do Estado com a população considerada na época, nativa. E história das mais perversas. Eliminação pela degola, pelo massacre impiedoso de homens, mulheres, crianças, cada ser vivo existente em Belo Monte. Ao todo, das quatro campanhas para destruir a resistência de Canudos, foram assassinados cerca de 20 mil sertanejos, impiedosamente. Fim de Belo Monte e da resistência daquela população, cuja existência incomodava, colocava em risco a existência do Estado Republicano.
A alusão ao genocídio de Canudos, se pensarmos nos caminhos que o Brasil percorreu ao longo de sua história, aos mesmos métodos que continuaram sendo usados, se fizermos um paralelo com a população pobre e periférica dos dias de hoje, que incomoda, que contesta um Estado que não lhes garante condições de sobrevivência, podemos ver uma chacina não repentina, mas lenta e constante. Da população pobre, jovem, negra das periferias do Brasil. Das etnias indígenas cujas terras são usurpadas, condenando-as à penúria. É também um genocídio.
Este foi o tom da Abertura da FLIP. Com mesas abordando essas reflexões e com uma empolgante performance artística, na mesma perspectiva. E QUE VIVA A FLIP!

Apenas uma reflexão inicial.  Em próximas postagens, sobre a FLIP, mais impressões.

Até Breve!










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