PARA ALÉM DO CONVENCIONAL – UM POUCO DE LIMA BARRETO
Vamos
seguindo com o objetivo que move este Blog. O compartilhamento e o estímulo à
leitura. Embora convencionalmente haja instituições que devam encarnar tal
tarefa. A família e a escola são duas delas,
as mais convencionais. Para além destas, acredito que todos podemos nos
estimular mutuamente. Principalmente num país como o Brasil, de tão poucos
leitores, pelo que sabemos.
Conhecer escritores, que no Brasil expressam
seu tempo histórico, é fundamental. Uma chance a mais de não esquecermos nossas
origens, nossa história e não repetir erros do passado. Este Blog quer também encarnar
tal tarefa. Não a deixando apenas para as instituições convencionais.
Começo a postar a partir de agora,
entre notícias e eventos literários, comentários sobre a atualidade, pequenas resenhas de livros que
tenho lido. O quanto gostei me incomodei ou me encantei, também pode ir junto.
Os temas dos livros na literatura brasileira
são diversos, ricos. Há de haver sempre um ou mais assuntos de interesse de quem
acessar o Blog.
Encantada estou com LIMA BARRETO,
com quem inicio essa jornada.
Escritor de expressão do início do século XX,
período da Primeira República. Talentoso, de origem negra, sofreu intensa
discriminação racial. Dois de seus livros, li novamente recentemente: “O
Triste fim de Policarpo Quaresma” e “Clara dos
Anjos”.
Sua obra é bem maior, mais extensa que esses
romances. Muito mais poderá ser dito sobre ele e há diversas fontes de pesquisa
que podem ser acessadas.
Mas a intenção aqui, agora, é modesta.
Somente compartilhar minhas impressões, como leitora, sobre os livros do autor,
que li.
O
autor
Lima
Barreto. Era jornalista,
escreveu muitos artigos em jornais da época, além de ser autor de vários livros.
Profundamente ligado ao tempo em que viveu, como já referi, sofreu forte
discriminação racial, que marcou sua obra e sua vida, que foi curta. Viveu
apenas 41 anos. De origem pobre, não conseguiu concluir o curso de Engenharia, que
precisou abandonar para sustentar os irmãos, com o adoecimento do pai,
internado num manicômio. Já era órfão de mãe.
Romance – Clara dos Anjos
A personagem Clara dos
Anjos, uma jovem do subúrbio do Rio de Janeiro, dezessete anos, reside com os
pais, pobres, trabalhadores e honestos. O pai é Carteiro, empenhado no sustento
da família, a mãe é dona de casa. Clara, sonha com um grande amor, mas não lhe
era proporcionado contatos além dos pais, padrinhos, vizinhos muito amigos. A
jovem vê em um rapaz convidado para tocar na festa de seu aniversário (seu pai
também era apreciador de instrumentos musicais) Cassi Jones, o seu grande amor.
Cassi é um homem experiente nas relações com mulheres, é sedutor, bonito, mas
aventureiro e desprovido de caráter.
Ela é descrita como “mulata”,
muito bonita, ingênua, sonhadora.
A história central se
desenvolve em torno deste romance e Lima Barreto consegue descrever, no
circuito da história, o modo como o Rio de Janeiro foi se adensando em
população, as características das moradias do subúrbio, as pequenas mudanças numa
cidade que vai de espalhando, ampliando, dando corpo a uma transformação maior
de uma sociedade. Antes Colônia, agora uma República, o autor vai remexendo o
cenário urbano do Rio de Janeiro, de forma riquíssima, nos dando uma idéia
plena da formação daquele espaço urbano.
A força das relações
familiares de Clara, pai, mãe, padrinhos, são bem descritas, assim como as
relações de vizinhança e solidariedade. Cassi Jones de uma família de outra
classe social, burgueses, brancos, com uma mãe claramente racista.
É evidente que há
oposição ao romance por parte do padrinho de Clara, assim como, por outras
razões, pelos pais de Cassi, particularmente a mãe, conivente com as atitudes
do filho.
Vale à pena ler o
romance, saber o destino dos personagens, se apropriarem dessa história do
início do século XX, contada pela voz ficcional e extremamente realista de Lima Barreto. Refletir sobre seus
desdobramentos, sua forma de denúncia ao preconceito racial, o trato com as
mulheres negras suburbanas e pobres pela classe rica a branca.
Outras obras de Lima
Barreto também têm essas características.
Como já referi, sofreu forte discriminação racial, que marcou sua obra e
sua vida, que foi curta. No pouco tempo de vida, expressou através da escrita,
sua rebeldia, descontentamento contra as injustiças que vivia. Não teve o
reconhecimento que merecia em vida. Sofreu muito e adoeceu em função de sua
condição
Acredito que sem Lima Barreto e sua sensibilidade para compor personagens com seus sentimentos, raízes, etnias, imaginários, ficaríamos muito mais pobres nos conhecimentos sobre a então capital da República, e seu cotidiano, sua população. Outras das obras de Lima Barreto também têm essas características.
Acredito que sem Lima Barreto e sua sensibilidade para compor personagens com seus sentimentos, raízes, etnias, imaginários, ficaríamos muito mais pobres nos conhecimentos sobre a então capital da República, e seu cotidiano, sua população. Outras das obras de Lima Barreto também têm essas características.
Encerrando essa minha
modesta contribuição, posso dizer que compreender a formação e a cultura do
povo brasileiro, vai nos ajudar a romper as amarras do presente, que parecem
tão sem propósito nos dias de hoje. O que levam muitos a não compreendem as
lutas feministas a luta contra o racismo. Que combatem questões muito presentes nos dias
de hoje.
Lima Barreto nasceu no final do século XIX,
escreveu sua obra no inicio do século XX, para cujo orbe não podemos voltar.
Então é sempre bom lembrar que as sociedades precisam caminhar para frente,
superando o que tem de perverso e desumano, garantindo seus avanços.
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