OLÁ, PESSOAL.

Penso que a poesia nos sustenta. E em vários tons. Nada como recorrer a VLADIMIR MAIAKOVISKI, poeta e dramaturgo russo. Morreu em 1930, é considerado um dos maiores poetas do século XX.

O interessante é que dois poemas que escolhi, foram adaptados por artistas brasileiros em músicas. O “amor”, por Caetano Veloso, gravado por Gal Costa. E “Então o que quereis?”... foi gravado como uma fala introdutória à música “O Corsário”, cantada por João Bosco.


O primeiro poema, “Amor”, fala do amor por uma mulher, pelos seres humanos, por animais, pelo planeta.

 AMOR
Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
– Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo,
a mãe,
pelo menos a Terra.
Vladimir Maiakovski (1893-1930)
Caetano Veloso faz uma adaptação do poema de Maiakovski. Para os fãs da boa música, vale à pena conferir essa adaptação musical. Aproveitem.



 O Segundo poema, “Então, o que quereis?”... (escrito em 1927), foi usado numa bela entrada de João Bosco em apresentações de sua música, “Corsário”.

E ENTÃO, O QUE QUEREIS?...


Fiz ranger as folhas de jornal

abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo

de cada fronteira distante

subiu um cheiro de pólvora

perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos

nada de novo há

no rugir das tempestades.



Não estamos alegres,

é certo,

mas também por que razão

haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

é agitado.

As ameaças

e as guerras

havemos de atravessá-las,

rompê-las ao meio,

cortando-as

como uma quilha corta

as ondas.

Poema extraído do livro “Maiakovski — Antologia Poética”, Editora Max Limonad, 1987, tradução de E. Carrera Guerra.

Com uma esperança por tempos melhores, o cantor e compositor João Bosco usou este poema como introdução à música “O Corsário” (João Bosco/Aldir Blank). Se for apreciador da música, você pode ver em:  


Posso dizer que Maiakovski tem poemas que nos tocam hoje, embora ele tenha nascido há 123 anos e morrido há 89 anos. Atualíssimo!. Foi um visionário!


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